São Paulo é forró do Gogó ao Mocotó
São Paulo é forró do Gogó ao Mocotó / Antonio Carlos da Fonseca Barbosa. São Paulo : Giostri, 2021. 228 p. : 17cm x 24cm.
Dança é uma linguagem de comunicação ancestral da humanidade. Todos os povos criam ritualísticas ligadas à dança para se conectar ao divino ou entre seus próprios membros, vivenciando através dela sua filosofia de vida.
O Brasil é um país com grande diversidade cultural, cujas danças de suas expressões populares, por vezes, são vistas somente nas suas localidades de origem, onde são praticadas e ensinadas de geração em geração. No entanto, algumas dessas expressões ganham um extensão territorial ampla devido as correntes migratórias de seu povo, ganhando “sotaques” em cada local de destino, dialogando com o novo ambiente e seus grupos sociais locais. Assim é o Forró (“Forrobodó”), cuja extensão territorial está presente de norte a sul do país !
O corpo e seu repertório de movimentos, carregam memórias da sua cultura de origem, isto é, das crenças religiosas, sociais, tipo de atividade laboral, assim como, características da sua ancestralidade genética (DNA dos antepassados). Por isso, quanto maior a abrangência geográfica de uma determinada expressão cultural, maior diversidade de detalhes de movimentos ela apresentará entre regiões, que chamaremos aqui de “sotaques” corporais, isto é, gestos incorporados à característica principal corpórea da matriz que a identifica.
São Paulo é forró do Gogó ao Mocotó / Antonio Carlos da Fonseca Barbosa. São Paulo : Giostri, 2021. 228 p. : 17cm x 24cm.
A Dança do Forró ou “Forródança”, é exatamente assim, possui uma estrutura corporal matriz que o identifica como tal, no entanto, é possível reconhecer o lugar de origem dos dançarinos pelos seus “sotaques” corporais regionais.
Além dessa diversidade corporal, o Forródança também é diverso pelo diálogo que estabelece com a música dessa expressão cultural que é polirrítmica, sendo inclusive denominada de “supergênero”. Seus subgêneros musicais, ou tbm chamados ritmos são: Xote, Baião, Rojão, Xaxado, Coco, Marchinhas ou Arrastapé, toada e forró.
O Xote é um dos subgêneros mais populares do Forró, tanto na música quanto na dança, cujo andamento é mais cadenciado e de característica romântica-melódica. Suas letras falam predominantemente de amor nas suas várias formas.
A grande popularidade do Xote se deve a sua simplicidade de execução e a sensação de aconchego que o envolvimento do “abraço forrozeiro” proporciona, ganhando adeptos aficcionados. Lembrando que a ciência já comprovou que um abraço de 20 segundos é suficiente para proporcionar ações terapêuticas, o que dizer de um abraço envolvente de 3-4 minutos, sendo este o tempo mínimo de duração de um Xote ? Por isso, o vínculo estabelecido entre os dançarinos de Forró é tão intenso e de tal maneira que, qualquer outro “rótulo” que um indivíduo possa ter (sua origem, status, religião, etc), é irrelevante para o grupo, importando somente sua condição de Forrozeiro !
O baião, rojão, coco e forró são subgêneros da música mais ligeiros que o Xote, e suas notas altas inspiram danças alegres, com movimentos frenéticos e improvisados.
As Marchinhas ou tbm chamadas de Arrastapé, são típicas para a dança de quadrilha, principalmente executadas durante as festas juninas.
O Xote, por ser muito popular, é um ótimo exemplo para falar de “sotaques” regionais na dança. O Xote “de raiz”, dançado no nordeste, a dupla se mantém conectada num abraço envolvente, de corpos que se aproximam por inteiro, sem se separarem durante toda a música. No entanto, em outras regiões do país (sudeste e sul), alguns giros foram incorporados, movimentos adotados de outras danças, como por exemplo, rock ou samba-rock/SP, já presentes nos corpos daqueles que estavam se conectando ao Forró pela primeira vez (anos 90). Esse contato inicial dos “novatos” sem a presença das referências corporais dessa dança , uma vez que se deu em ambientes distintos do grupo social originário dessa cultura, isto é, na universidade e bairros elitizados nos espaços urbanos.
Como podemos perceber, é possível abordar vários aspectos antropo sociológicos sobre o Forró através de sua dança, pois a Dança, em si, é um tema multidisciplinar, estudada em diversas áreas do conhecimento nas ciências humanas ( filosofia, sociologia, antropologia) , biomédicas (psicologia, fisioterapia, educação física …), entre outras. Isso demonstra a relevância desse tema para os seres humanos.
O Forró está presente em diversos países, em vários continentes, sendo sua dança a grande motivadora da realização de inúmeros encontros , uma vez que envolve todos os presentes como participantes ativos, ao invés dos novos integrantes serem somente expectadores contemplativos.
Nas últimas décadas, a matriz Dança tem sido a grande difusora do Forró, cativando novos adeptos através dos cursos regulares e festivais. Nos festivais os participantes tem a oportunidade de vivenciarem um intercâmbio com professores e dançarinos de várias regiões do Brasil, assim como do exterior, o que estimula uma conexão ainda maior desse rede interregional e internacional de Forrozeiros.
Esse movimento até hoje tem sido fomentado e financiado autonomamente, isto é, pela própria comunidade Forrozeira. Em dezembro 2021 o Forró se tornou Patrimônio Cultural do Brasil e à partir de 2022, a comunidade pode pleitear a co-responsabilidade do Estado brasileiro, em quaisquer das instâncias federais, o apoio ao seu plano de salvaguarda que prevê ações para sua sustentabilidade, isto é, apoio para execução de projetos de fomento e difusão dessa cultura !
Simmmbooorrraaa Forrozear ….é muito bom pra cabeça, pro corpo e pra alma !
Forró é invenção, surpresa, intuição. É pura cultura brasileira: música, dança, expressão de um povo que une o país e conquista apaixonados por outros cantos do mundo.
Forró é fruto do jeito brasileiro, alegre e acolhedor. Um ritmo orgânico que resiste ao sabor do tempo e das modas. Forró como brincadeira, mas também como coisa séria, que merece respeito e reconhecimento. Reconhecer, não lá pra fora, mas aqui mesmo. Fazendo as pessoas desta terra, olhar , aceitar e valorizar o que é seu. Porque quem olha só pra fora, nunca vai entender o que tem por dentro. A sina do Brasil é maior, é criar cultura, tendências e contagiar o mundo positivamente.
Por isso dizemos que o Forró tem alma brasileira
É identidade de uma sociedade plural
Forró de Luiz Gonzaga, Marinês, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro e outros tantos músicos, trios e bandas. Forró vindo do nordeste e que é dançado de norte a sul. Aquele lá do pé da serra, com sanfona, triângulo e zabumba em uma levada que resume a autenticidade do povo brasileiro. Aquele tilingado do ferro, o tum-tum da zabumba e o resfolego da sanfona, o fole abrasileirado. A mistura do Coco, Xote, Baião e Xaxado que o povo aprendeu a chamar de Forró.
Forró tem um algo a mais, é entrega, intensidade. Um certo magnetismo e generosidade. É um riso espontâneo, num verdadeiro mergulho na melodia da alegria. Mas não pense que é só isso não, o Forró tem aresta, malícia e faca no bucho, aí é aquele Forrobodó.
Forró não tem cerimônia, é vivido na pista, na areia, no terreiro ou na sala de reboco no pulsar de chão batido de pés descalços. E nessa dança antropofágica, os pés vem lá do índio, subindo tem o calor africano e à dois, o bailado europeu, assim, se entende a ancestralidade desta nação. Na ginga do improviso que dois viram um, o Forró que é um xamego só, também traz saúde e energia.
No canto do Forró, o amor tem espaço reservado, e também a saudade, a felicidade e a simplicidade da vida. Mais que música, canto ou lirismo, é algo do ser brasileiro. Nosso símbolo e patrimônio Cultural: Forró, alma brasileira !
2014 –
Texto produzido através de um coletivo de forrozeiros, músicos e dançarinos em SP.
Forró é pura magia …..fazendo desaparecer fronteiras geográficas e culturais, aproximando povos por onde quer que vá !
Esse Blog apresenta a cultura popular como uma educação empírica, como espaço de resistência por meio do hibridismo ; ou seja, através de uma abordagem teórica ocidental
Esta plataforma tem o objetivo de informar as pessoas sobre a cultura forrozeira como patrimônio, suas matrizes, significados, processos e ações de Salvaguarda.
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